4 de maio de 2007

Jogadas Preciosas de Política

Este é um texto retirado do Diário de Notícias, de 4 de maio. É delicioso...

De Éric Besson já aqui falámos, na primeira volta. Ele era o deputado socialista e grande especialista da campanha de Ségolène Royal nas questões económicas. A meados de Fevereiro, abandonou a campanha e o partido por razões que explicou num livro, tornado sucesso: Quem Conhece Madame Royal? Um libelo contra aquela que Besson considera - pela ignorância dela e pela ignorância da sua ignorância - um perigo para a França. Que alguém bem colocado num projecto poderoso bata com a porta, causa admiração pela convicção. O que seguiu continua a causar admiração...Sarkozy ganhou a primeira volta, no domingo 22 de Abril. Na segunda-feira 23, Besson tomou o pequeno-almoço com ele. Um encontro inesperado e não só por serem homens de lados políticos diferentes, mas também por razões pessoais: poucos meses antes, Éric Besson tratara Nicolas Sarkozy com um insulto perigoso de ser dito em França, com os seus demónios antijudeus e anti-imigrantes (o candidato é filho de pai húngaro e neto de judeu pelo lado da mãe): "Sarkozy é um neoconservador americano com passaporte francês."Logo naquela segunda-feira, Besson fala no comício do UMP, ao lado de Sarkozy. Pede desculpas pelo seu deslize e explica-o como tendo sido empurrado pelos seus antigos camaradas. Por esses dias, Ségolène Royal piscava o olho ao centrista Bayrou, à sua direita, e Nicolas Sarkozy, velha raposa, deixou os rancores para trás, feliz por aquele apoio, à sua esquerda.Além da oportunidade política, Éric Besson levava consigo uma outra vantagem: ele conhecia os fracos (sobretudo, no domínio económico) da adversária de Sarkozy. Este convidou-o a preparar o único debate entre as duas voltas. Anteontem, nas precisões económicas que Sarko exigia a Ségo, estava o dedinho do seu novo amigo. Uma amizade com cada vez mais testemunhos: domingo, na Córsega, Besson é fotografado a fazer jogging ao lado de Sarko. Nessa noite, lá estava ele ao lado de François Fillon (o mais provável primeiro-ministro se a direita ganha), num pequeno grupo que Nicolas Sarkozy abraçou num gesto e definiu assim: "Vocês são o meu Governo."