28 de março de 2010

É o Benfica!

Ao ler um artigo sobre a vida de um treinador de futebol no desemprego nesta sexta-feira no jornal I dou nesta descrição que José Carlos Pereira faz de Guardiola - "É inteligente, com capacidade de liderança interessante e um catalisador de tudo o que há de bom no clube" continuando, "À volta da face visível que é o rendimento da equipa há muitas coisas, a cultura do clube, a capacidade do plantel, as ideias do treinado. O actual Barça é o reflexo de tudo isso."

Surge na minha cabeça quase a sublinhar o que antes lera, que o maestro da fantástica orquestra que é o Barcelona, é um profundo adepto do clube, foi jogador e viveu na idolatria que um jogador nestes grandes clubes pode viver. Mas transpor este pensamento, transpor esta cultura para alguém que é adepto de um clube rival é algo que dá que pensar, pelo fascinante que isso pode significar.

Olho para Jorge Jesus e vejo esse caso paradigmático. Acho que é uma prova suprema e bem viva que somos um clube que representa a par de poucos um fenómeno social intenso e de curiosa interpretação.

Tantos anos passados de vitórias, deixamos de ser hegemónicos e continuamos a pensar que o éramos. Não soubemos reconhecer que estar vivo mas adormecido não a mesma coisa de estar vivo e bem acordado. A nossa cultura de exigência para com o sentimento de vitória foi diminuindo, a nossa euforia desproporcionou-se com o passar do tempo. Fazíamos intenção de dizer que seria uma questão de tempo até voltarmos a dominar, mesmo sabendo que a realidade não demonstrava isso, mesmo sabendo que a razão muitas vezes não entra em casa quando falamos do Benfica.
Nisto, quando chega um senhor, de cabelo grisalho e diz de peito feito que o objectivo para o qual estava ali era o de ser campeão. Coloca nas nossas faces um misto de "agora é que vai ser" e de "nem à champions fomos e quer ser campeão". Parece que toda a gente de fora via e sabia o que fazer, menos nós.
Dizia que ia jogar o dobro e a nós já nos bastava jogar melhor. Quando demos por nós andávamos a ganhar e a limpar à goleada quem no passado se ganhássemos pela margem mínima era motivo de contentamento.
Hoje o Benfica é o Benfica, a razão já não anda mais deslocada e tudo porque um senhor soube respirar a nossa grandiosidade...de fora. Viveu de fora o nosso sofrimento por dentro, soube ler e entrelaçar a oportunidade de uma vida que nos últimos anos poucos souberam dar o devido valor.
O nosso reflexo actual é de alguém que viu por fora a angústia que é impossível de conter cá dentro. A nossa cultura extravasa portas e para o bem e para o mal, faz com que nós sejamos enormes.

5 de março de 2010

Sentimento económico

Henrique Granadeiro no flash interview a seguir à publicação das escutas disse que se sentia e passo a citar "encornado".
Após a renúncia de Rui Pedro Soares, e juntamente com Zeinal Bava elogia o renunciante quanto à sua postura como profissional. Numa analogia, imagine-se que num casamento comum, o marido trai a mulher, esta diz ao seu círculo de amigos que foi encornada e como consequência o marido tem a decisão de pedir o divórcio. A mulher encornada, diz aos mesmos amigos que a decisão de se divorciar por parte do seu ex-marido revela o empenho e responsabilidade com ele exerceu todas as funções que lhe foram atribuídas pelo casamento, e mais, regista a dignidade da sua atitude ao renunciar ao seu estado civil e por ser esta a atitude que melhor corresponde ao dever fiduciário de proteger a imagem e reputação da instituição casamento.
Depreendo que exista um sentimento económico no meio desta história, só assim se poderá entender o que aconteceu. Mas no meio desta autêntica carta de recomendação que Henrique Granadeiro e Zeinal Bava fizeram, e na tentativa de os perceber, fico a pensar se não haveria espaço para um perdão...